26 de julho de 2009

Melhor que um cão, só muitos



Sex, 24 Jul, 02h58

Por Por Ayrton Mugnaini Jr./ Especial para o Yahoo! Brasil


Um guitarrista com quem toquei até o começo deste século faltou a alguns ensaios por motivo de força maior: machucara as mãos ao apartar seus cães briguentos. Felizmente, estes "alguns" ensaios foram apenas um ou dois, o que significa que ele, amante de animais, conseguiu educá-los o suficiente para minimizar os embates. Pois é, sempre digo que cães equivalem a crianças bem pequenas na demonstração de afeto e necessidade de educação e cuidados, e isso fica ainda mais evidente quando temos mais de um, sejam crianças, caninos ou ambos.


Não é só ao lidar com nossas crias humanas que devemos administrar detalhes como rivalidades, ciumeiras, carências, chamamentos de atenção, idades variadas e temperamentos diferentes que exigem abordagens variadas e diferentes, pois qualquer pessoa que pensa que "cachorro é tudo igual" muda de ideia ao conviver com mais de um por alguns minutos. Cachorro só é "tudo igual" no sentido daquela frase do escritor George Orwell: "Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros".


Quando a tônica é o dominante


Muitas vezes um cão só se torna, ou se revela, "briguento" ao ter de dividir alojamento com outro, e nunca é "por mal" no sentido humano. Tal como ocorre com os humanos, dois ou mais cães colocados juntos resultarão numa hierarquia em que um acabará dominando pela inteligência, esperteza, força, determinação e/ou simplesmente pelo tamanho, afinal falar em "sobrevivência do mais apto" tornou-se clichê por ser verdade.


Numa matilha a existência de um líder é tão esperada e necessária quanto os dois lados de uma moeda. Cães cujo temperamento pode ser interpretado como de líder ou dominante (também chamado "Alfa") costumam demonstrar isso com atitudes como ficar de orelhas e cauda em pé, encarar diretamente ou cheirar outros cães, marcar território e rosnar quando outros cães se mexem; já os chamados submissos deitam-se de costas para expor a barriga, procuram se esconder, abaixam as orelhas e, virou até provérbio, metem o rabo entre as pernas.


Além disso, cães de companhia são mais dependentes dos humanos que os de guarda, caça ou trabalho. E é normal eles ficarem se "pegando" não para brigar, mas sim, poder brincar um com o outro e gastar energia, assim como cães que moram ou estão sozinhos brincam com eles mesmos, correndo atrás da própria cauda.


Com a palavra a especialista estadunidense em comportamento animal, Elise McMahon: "Quando há muitos caninos no mesmo lar, a questão frequente é de que um será o chefe, mas a questão na verdade é como saber qual canino é o chefe. Se você tem muitos machos e fêmeas no mesmo lar, um canino poderá ser o líder em uma situação e outro sera líder em outra situação."


Para McMahon, a combinação ideal é ter dois caninos, um macho e uma fêmea: "Simplesmente não haverá o mesmo tipo de brigas que acontecem entre duas fêmeas ou dois machos."


Humanos no comando


Se uma matilha precisa de um líder, o dono humano é considerado parte dela (embora uma parte meio esquisita, andando somente com duas patas e falando uma língua estranha e complicada). Daí que... adivinhe: o ideal é o dono humano se impor como o líder (pelo menos enquanto estiver presente; vale reler nosso texto anterior, "Quem É Que Manda Aqui").


Cabe ao dono de dois ou mais cães demonstrar-lhes que em casa ninguém precisa lutar pela vida com tanta aflição, pois todos vão ter cotas iguais e suficientes de abrigo, alimentação, cuidado e carinho. E cada animal deve ser observado e educado de acordo com suas tendências individuais para atividades não muito desejáveis como esparramar a comida, roubar o lugar dos donos na cama, ser agressivo com visitantes amigos ou se alimentar do jornal da manhã.


Em casa é assim com meus "netos" caninos (o "pai" deles é meu filho), o genérico-de-dálmata Fredy e a vira-lata Mila. Fredy tem quase o dobro do tamanho de Mila, e na hora de servir a ração os dois vêm juntos, mas Fredy simplesmente passa por cima dela como um tsunami peludo. O jeito então é separar os pratos e agir com um bom "maître", conversando com cada um, "Dona Mila, aqui está o seu", "espere um pouco, Fredão".


Já Mila prova que as cadelas são normalmente mais espertas e ágeis que os cães e que o mundo canino tem tanta necessidade de machismo quanto de democracia e que as fêmeas são ótimas líderes. Por isso, a cadela mostrou-se, desde cedo, mais esperta para procurar o que comer ou mordiscar no lixo ou na mesa; o jeito foi acionarmos várias vezes o comando "Não!" e mostrarmos o prato de ração a ela.


E há um detalhe, quaisquer que sejam os sexos dos caninos, lembrado por Elise McMahon: "É muito errado alimentar primeiro um e depois outro se ambos estiverem bem próximos, ou alimentar primeiro o cão ou cadela que não for o Alfa, porque daí eu estaria trocando os papéis deles, dando a liderança a quem não tem essa posição natural."


A cantora e produtora fonográfica paulista Tereza Miguel, de quem falamos no artigo anterior, também entende muito bem de hierarquia canina, já que sua "família" é conta de mentiroso, pois ela tirou da rua uma cadela e seis cães: Nara, Sarney, Bonitão, Neve, Orelha, Junior e Billy. "Estabeleci uma certa hierarquia entre eles", diz Tereza, "mas percebi há muito que quem manda é Nara, a cadela.


E por quê? Porque ela é fisicamente forte e, quando quer, é agressiva também. Com sua força, é capaz de ferir qualquer um dos seis cães. Raramente isso ocorre. Talvez porque eles já tenham se adaptado a essa condição ou imposição. Durante o dia, quando estou por perto, dificilmente a Nara agride algum dos cães. Mas, à noite, quando estou dormindo, torço para que nenhuma desavença aconteça.


De um modo geral, há uma relação bastante harmoniosa entre ela e eles. Já me perguntaram como eu consigo manter a turma reunida em paz. Eu argumento que, como acontece entre os seres humanos, de vez em quando tem alguma rusga. É normal, feliz ou infelizmente."


Tanto Tereza quanto eu e o guitarrista citado no início desta matéria estamos de acordo com o título "Melhor que um cão, só muitos". É verdade que criar como se deve dá trabalho, mas toda tarefa bem feita exige dedicação - e perder sono com filhos, humanos ou caninos, é bem mais prazeroso e positivo que, por exemplo, ficar assistindo a filmes de categoria Z-menos, teclando bate-papo-furado na Internet ou fuxicando sobre a vida alheia. (E tudo que é fácil demais perde a graça, né?) Tem mais: dois ou mais cães fazem companhia um ao outro na ausência dos donos ("donos humanos" deve ser pleonasmo) e, assim como criança (sempre esta comparação) não deve ser criada como a única entre adultos, faz bem ao cão ter outros cães com quem conviver. Obviamente, é aconselhável evitar ter mais cães do que se pode criar. Mas ter mais de um, sejam machos ou fêmeas, é normal - e, acrescento eu, felizmente.



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